Foto: Giuliano Robert |
Em uma sociedade em que a arte e a cultura são produzidas e consumidas hegemonicamente por ouvintes, a peça reúne um elenco formado por artistas surdos, que expõem suas diferentes realidades cotidianas por meio de Libras (a Língua Brasileira de Sinais), da expressão estética e de experiências visuais.
“Surdo, Logo Existo” é composto por esquetes que apresentam diversas cenas do cotidiano das pessoas surdas em uma sociedade ouvinte que não conhece sua língua. Narra-se com corporalidade e visualidade a história dos surdos e da língua de sinais desde o ano de 1700 até os dias atuais, inclusive com episódios de opressão e exclusão, como por exemplo a proibição da língua de sinais pelo Congresso Mundial de Professores de Alunos Surdos, em Milão, Itália, em 1880.
Cotidiano das comunidades surdas no palco
No espetáculo são mostradas várias situações vividas por uma pessoa surda, como a falta de comunicação com a família, a aquisição tardia da língua de sinais, a imposição arbitrária da prática fonoaudiológica e da oralização na infância, a falta de comunicação e de informação em praticamente todos os espaços públicos e privados, o desrespeito com sua língua e com os profissionais intérpretes, entre outras experiências.
As cenas foram compostas em grupo, resultando em uma história apresentada de forma poética e visual em língua de sinais, sem a “necessidade” de intérprete para ouvintes. Trata-se de uma peça inclusiva, que também contará com determinadas sessões com audiodescrição para atender pessoas com deficiência visual e outras com guia-intérpretes para surdocegos.
Boa parte do elenco esteve presente na primeira montagem da peça em 2019, na Casa 603 (coletivo e espaço de criação de projetos voltados à arte surda e sinalizada de Curitiba). Desde então, o grupo vem realizando diferentes ações artísticas surdas em Curitiba.
Surdo como protagonista em peça que reflete sobre a surdidade
O espetáculo tem direção e dramaturgia da dupla formada por Gabriela Grigolom (surda, poeta e atriz, que também compõe o elenco da peça) e Jonatas Medeiros (tradutor, roteirista, pesquisador e produtor cultural). Para a diretora, o projeto apresenta-se inovador pois se localiza em um campo ainda pouco ou quase nada explorado: a essência do ser surdo manifestada como linguagem e dramaturgia. “Isso enfatiza e viabiliza a disseminação identitária, cultural-linguística do povo surdo na esfera artística, contribuindo para a formação de público surdo no teatro e em outras produções artísticas pelos próprios surdos”, afirma.
Gabriela relata que a obra propõe reflexões sobre o “ser surdo” e a surdidade, sobre as barreiras de comunicação na sociedade e sobre a “dita” acessibilidade, subvertida em uma peça inteiramente sinalizada em Libras e sem tradução para os ouvintes. “É uma experiência de inversão e uma imersão no mundo surdo”, completa.
Jonatas Medeiros enfatiza a importância do espetáculo em colocar o surdo como ponto central. “Nosso expoente é o protagonismo das pessoas surdas, enquanto compositores da narrativa, retirando a língua de sinais da mera acessibilidade e colocando-a como central na produção de um espetáculo bilíngue bicultural de estética surda e a plasticidade da poesia visual, difundindo assim a cultura surda e a língua de sinais”, argumenta Jonatas.
“Surdo, Logo Existo” é uma produção da Fluindo Libras, produtora cultural surda e estúdio de tradução em Libras, que compõe um coletivo sinalizante. Atua na promoção da arte protagonizada por surdos, assim como na tradução artística em Libras enquanto experiência estética e cultural.
O espetáculo tem apoio da Bait Nazha - Culinária Libanesa, incentivo da Divesa e é viabilizado com recursos do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura - Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba.
Serviço:
Espetáculo “Surdo, Logo Existo”
Datas e horários: de 03 a 25 de fevereiro, com apresentações nos sábados às 16h, 18h e 20h, e nos domingos às 16h e 18h.
* Sessões com audiodescrição: 24 e 25 de fevereiro
* Sessões com guia-intérpretes para surdocegos: 10, 17 e 24 de fevereiro
Local: Miniauditório do Teatro Guaíra (Auditório Glauco Flores de Sá Brito)
Endereço: Rua Amintas de Barros, 70, Centro, Curitiba - PR
Classificação: Livre
Duração: 60 minutos
Entrada grátis com contribuição voluntária ao final da peça. Ingressos gratuitos com reserva pela Fluindo Libras: (41) 989036987 (via WhatsApp).
Retirada de reservas até 30 min antes da peça (obs: ingressos ociosos serão liberados 20 min antes da peça)
Ficha técnica:
Elenco:
Bruno Lopes
Carlos Eduardo
Diegho Silva
Emanuelle Dias
Gabriela Grigolom
Josiane Machado
Paula Roque
Paulo Silva
Rafaela Hoebel
Ricardo Fiedler
Texto e Direção: Gabriela Grigolom e Jonatas Medeiros
Direção de corpo: Rafaela Hoebel
Produção Executiva: Felipe Patrício
Coordenação Geral: Chiris Gomes
Produção: Rafaela Hoebel, Chiris Gomes e Felipe Patrício
Produção de figurino: Viviana Rocha
Criação de Luz: Octávio Camargo e Fernando Dourado
Operação de luz: Fernando Dourado
Cenografia: Fernando Marés
Foto e vídeo: Giuliano Robert
Identidade Visual: VIK Von
Maquiagem: Gabriela Viana
Intérprete de Libras: Jonatas Medeiros
Guia-intérpretes para surdocegos: Gilberto Bertolino e Vanessa Casali
Audiodescrição: Raquel Carissimi
Captação: Caroline Roehrig
Assessoria de imprensa: Lide multimídia
Realização: Fluindo Libras e Casa 603
Incentivo: Divesa
Apoio: Bait Nazha - Culinária Libanesa
Projeto realizado com recursos do Programa de Incentivo à Cultura da Fundação Cultural de Curitiba e Prefeitura de Curitiba