Um outro vinho é possível? (Luís Henrique Zanini - Enólogo) Estou letárgico, em frente a uma garrafa de vinho. Vejo seu rótulo... Tento decifrá-lo, suas linhas, sua cor, seus caracteres, sua forma... É belo, sim, tem cores, discreto, aristocrático, clean,.... tento elaborá-lo dentro de mim... mas não me emociona... O álcool em destaque: 14,5%. Sem chaptalização - é a mensagem no contra-rótulo, como se tudo estivesse aí. Aromas e sabores tentadores, de saladas de frutas com chantilly a chocolate com marshmallow. Há um número na garrafa (como se marcasse o gado). A qualidade está garantida! Debruço-me sobre ela e lentamente apunhalo a cortiça que veda este mistério (?), e, lentamente, giro este sem fim filosófico até transpassá-la e pronto, basta um golpe para abri-la, e assim eu faço. A rolha é marcada, é um brasão de família, remanescente da Europa, o sobrenome garante o pedigree. Da garrafa, desce agarrando-se nas paredes, um líquido de estado viscoso a pastoso, denso, quase um